81

Nada trago no meu peito
Tantas vezes sofredor
E sozinho quando deito
Penso logo em tolo amor.

82

Na palavra que redime
Meus momentos dolorosos
Onde foram mais sublimes
Os desejos caprichosos.

83

Nada mais eu pude ver
Nem quisera acreditar
E se busco o meu prazer
Onde mesmo me encontrar?

84

Nada tenho do passado
Nem presente nem futuro,
O meu mundo desenhado
Neste tom atroz e escuro.

85


Vago sem destino algum
Caminhando bar em bar,
Noutro trago deste rum
O teu rosto a se mostrar.


86

A saudade não se cala
Nem também disfarça enquanto
O que sonho toma a sala
E me traz somente encanto.

87

Navegando contra o vento
O meu barco tenta o cais
E se tanto não lamento
Quero a vida e bebo mais.

88

Na palavra mais gentil
No momento onde se quer
O que tanto amor se viu
Nos desejos da mulher.

89

O relógio marca o tempo
A tristeza já se arrasta
Quando vejo um contratempo
O meu canto se desgasta.

90

Vida volta com a chuva
E o meu sonho se refaz
Já cabendo como luva
Onde quero inteira a paz,

91

Bebo encantos quando passas
E vagando sem destino,
Te seguindo pelas praças
Em completo desatino.

92

Muito embora neste outono
Tente ver a primavera
O meu verso em abandono
Teu sorriso sempre espera.

93

Basta mesmo do que um dia
Transformei em realidade,
Vejo a luz em poesia
E mergulho na saudade.

94

Demarcando o que se quer
Com os olhos de indigente
Sem saber rumo qualquer
Que pudesse; indiferente.

95

Trovejando esta saudade
Nada resta no meu peito
Tão somente esta verdade
Onde o sonho sempre aceito,

96

Não quisesse noutro passo
Revestido de lembranças
Quando o sonho em ti eu traço
No vazio tu me lanças;

97

Apresenta a sorte imensa
Quem deseja e sempre traz
Neste olhar a recompensa
Que deveras satisfaz.

98

Libertar de quem domina
A vontade mais cruel,
A verdade cristalina
Refletisse inteiro o céu.

99

Aprendendo com o medo
Sempre busco algum caminho
E se tento outro segredo
Não queria estar sozinho.


100

Nesta trova centenária
Neste rumo já perdido,
A palavra necessária
Traz no amor todo o sentido.