241
Nada mais se vendo enquanto
O meu rumo já perdido
Não trouxera novo canto
E não faz qualquer sentido.
242
Esperando pelo menos
Num momento mais tranquilo
Dias calmos e serenos,
Onde sigo e não vacilo.
243
Quando estendes a saudade
Já quarando no quintal
Roubas minha liberdade,
Derrubando este varal.
244
O momento que tentei
Noutro rumo, novo salto
E se tanto eu mergulhei
No final novo ressalto.
245
No oceano onde diviso
Este atol, saudade imensa,
O que possa sem aviso
No final não mais compensa.
246
No batismo feito em fogo
Na verdade em dor e tédio,
Vou perdendo logo o jogo
E não vejo outro remédio.
247
Lava as mãos quem não soubera
Dos destinos mais cruéis,
E se tanto for sincera
Gira em loucos carrosséis.
248
Onde quer que se perceba
O momento determina
O tormento que conceba
Muito além de qualquer sina.
249
O meu verso se permeia
Entre sonhos e temores,
Onde quis uma sereia,
Só trouxeste teus rancores.
250
Noutro rumo, a vida traça
O que pude acreditar
Meu amor feito em fumaça
Num brumoso caminhar.
251
Apresento ao fim de tudo
O que tanto pude ver
E se posso, ou já me iludo
Bebo apenas desprazer.
252
Um sorriso mesmo falso
Transmitindo a simpatia,
Traz no olhar o cadafalso
E prepara outra agonia.
253
Esperando o quanto reste
Do meu verso sem proveito
O meu mundo sempre agreste
O meu canto insatisfeito.
254
Moreninha tão brejeira
Pude enfim saber em ti,
O que a vida sempre queira
E decerto eu mereci.
255
Nesta boca carmesim,
Neste olhar azulejado,
Revigora este jardim,
Sigo então maravilhado.
256
Aberrantes ilusões
São deveras mais doridas
E com elas tu me expões
Expressões já tão sofridas.
257
A nudez desta morena
Quando exposta em bela lua
Na verdade já condena
A minha alma a ser só tua.
258
Canto livre em noite clara
O meu sonho se permite,
E deveras se prepara
Muito além de algum limite.
259
Nada mais pudesse ver
Nem sentir senão teu cheiro,
E sabendo este prazer
Num amor, meu derradeiro.
260
Pousas mansa no meu colo,
E qual fosse uma falena
Neste instante me consolo
Minha vida em paz serena.
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