141
Onde a vida perde a rota
Relegando ao desengano
O caminho que desbota
Traz o passo onde me dano.
142
Nada mais eu pude ter
Quando tudo mais queria
Mergulhando no prazer
Já não sofro dia a dia.
143
Preservando esta colheita
O que pude numa ceva
Espreitando o que se aceita
Qual luzeiro em plena treva.
144
Teu olhar foi a lanterna
Numa noite mais escura
A palavra mansa e terna
Calmamente se procura.
145
Nada resta do passado
E tampouco se apresente
No momento delicado
Outro rumo a vida tente.
146
Beijo a boca da saudade
Vendo a rude dimensão
Onde tendo a claridade
Meu amor fora ilusão.
147
Nada pude e nem desvenda
A vontade de sonhar
No meu mundo cada venda
Impedindo de te olhar.
148
Marcas fundas, cicatrizes
Tatuadas no meu peito
Em momentos infelizes
Do que tive nada aceito.
149
Apresento na verdade
O que pude noutro sonho,
Onde quis felicidade
Outro passo, mais medonho.
150
Violão em serenata
Seresteiro coração
A vontade me arrebata
Traz ao sonho, imensidão.
151
Visto a lua em noite clara
E transformo em luz o canto
Onde a sorte se prepara
Traduzindo o raro encanto.
152
Mares tantos onde pude
Desvendar felicidade,
A saudade outrora rude,
Já me traz tranquilidade.
153
Onde tanto quero o brilho
Deste olhar claro e suave
Cada passo aonde trilho
Superando novo entrave.
154
Adiando o que inda resta
Do tormento dentro da alma,
Luz entrando pela fresta
Com certeza já me acalma.
155
Num momento aonde tente
Desvendar o que se faz
O meu mundo, de repente
Encontrara em ti a paz.
156
Nada mais se vendo após
O que tanto eu já queria
A verdade traz em nós
Farta luz; é fantasia?
157
Pouco tive e nada tenho
No meu mundo sem proveito
Quando tento o que desenho
No vazio ora me deito.
158
A saudade lusitana
Na verdade não consola
E se possa e já me engana
Coração em medo imola.
159
Apresento em tal platéia
O meu ato derradeiro.
E sem ter qualquer idéia
Morre em seca meu canteiro.
160
Desta sorte em alquimia
Deste canto em tom perverso
Todo tempo poderia
Traduzir este universo.
161
Rosas planto, colho espinhos
E jamais meu jardim
Onde vejo os mais daninhos
Desenhando além o fim.
162
O momento mais cruel
Insensato coração
Invadido pelo fel
Sem saber da solução.
163
Nada mais pudesse ter
Quem deseja pelo menos
Um momento de prazer
Novos dias mais amenos.
164
Cada trova representa
Tanto amor que a vida traz
E se vivo em tal tormenta.
Adormeço em falsa paz.
165
Acontece que não sei
E nem mesmo saberia
Deste amor qual fosse a lei
Que meu peito moldaria.
166
Acordando deste sonho
Onde tudo começara
O meu canto eu já proponho
Numa luz imensa e rara.
167
Apresento outra versão
E procuro o que viria
Nesta clara imensidão
Transbordando em poesia.
168
A mentira que nos salva
Dos rancores da existência
Na manhã que eu quis tão alva
Cada sol dita a cadência.
169
Nada mais já poderia
Quem se fez além do cais
Entre a sorte mais sombria,
Dias claros, magistrais.
170
Não cansasse da promessa
Que ora faço onde mais quis
Sem saber onde começa.
Mas procuro ser feliz.
171
Num momento onde pudera
Desenhar tão calmamente
O que a vida destempera
Ou traduz inutilmente.
172
Acordando bem mais cedo
Ouso até poder sentir
O meu mundo em que o segredo
Nada mais possa impedir.
173
Bebo em sonho o que traduz
A verdade mais completa
E seguindo em clara luz
Amor mira a fina seta.
174
A manhã por vezes cálida
Traz o quanto se prometa.
Nosso amor fora crisálida
Hoje aos céus nos arremeta…
175
Sem receio do futuro
Sem temer o que virá
Meu amor saltando o muro
Em teu corpo, este maná.
176
Beijo o quanto pude em ti
E jamais me negaria
Ao que tanto conheci
Do meu canto a garantia.
177
Investindo mansamente
No que possa ser assim
Percebendo plenamente
Todo amor que existe em mim.
178
Inda vejo o que pudesse
Noutro instante traduzir
Quando o sonho a vida tece
Garantido o que há de vir.
179
Nada mais traz o que eu quero
Nem o sonho, nem promessa.
Mas por ser sempre sincero
Minha lida recomeça.
180
Inda quero ser feliz,
Nada impede o meu caminho,
E se tanto em vida fiz,
Eu mereço um manso ninho.
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