201
Resta um pouco de perfume
Nas minhas mãos tão cansadas,
Essa mulher, meu queixume,
Tantas noites, recordadas...
202
Para que vou protelar,
O que não tem serventia,
Eu só queria um lugar,
Repousar a valentia...
203
Tanto tempo, tudo pode
Nada a prazo, tudo à vista,
Me escondendo num pagode,
Eu vou acabar budista.
204
Nos teus pés, já bem cansados
Belos pés, se estás descalça,
Nas danças, abençoados;
Na serenata de valsa...
205
Não quero mais valentia
Nem tampouco tempestades,
No tanto que me cabia,
Não cabe felicidade...
206
Te proponho conhecer
O que em mim não saberia,
No teu corpo, me perder,
Raiando essa poesia...
207
Galo cantando, manhã,
O sol vem devagar, manso,
Meu amor sem amanhã,
Maremoto no remanso...
208
Cansaço de tantos medos
Segredos destes cansaços,
Quero saber teus segredos,
Me prendendo nos teus braços...
209
Vírgulas da minha vida,
Ponto final da paixão,
Dois pontos: a despedida.
Meu amor; exclamação!
210
“Beijei a ponta da faca”
Me disse certa menina,
No peito, cravada a estaca,
Da saudade; assassina!
211
Vou fazer a serenata,
Cantando pro meu amor,
Tanto vive, tanto mata,
Tanto encanta, canta a dor...
212
Na tinta dessa caneta,
Percorrendo esse papel,
Brilhando, vivo cometa,
Iluminando esse céu!
213
Quis um outro barracão,
Fiz de zinco, meu castelo,
Em você, a solução,
Amor batendo o martelo...
214
Sabia ser sabiá
Que cantava na tardinha
Meu amor, vou te encontrar,
Nessa vida, tão sozinha...
215
Quero o gosto da maçã
Quero saber da beleza...
Noite passa, noite vã,
Carregando esta tristeza...
216
Na montanha, na planície,
Nos altos deste sertão,
Amando-te tanto, Dirce,
Procurando teu perdão...
217
Sabendo ser tão calada,
Falando tanto, tão quieta,
Nessa vida, minha amada,
Essa dor de ser poeta.
218
No copo da vida, bebo,
Na embriaguez da saudade.
Tantos planos, não concebo,
Traduzir felicidade!
219
Teus olhos azuis, serenos,
Me lembram de imenso mar,
Neles, conheço os venenos,
Que, tão doces, vão matar...
220
Minha vida vai passando
Pelos campos, devagar.
Tantos verbos conjugando,
Viver, sofrer e lutar...
221
Nesse copo de aguardente
Vejo a imagem de quem amo,
Tudo muda, de repente,
Quando por teu nome chamo...
222
Nasci no meio do mato,
Entre montanhas e serras
E, nadando no regato,
Vou em busca d’outras terras...
223
Na verdade o quanto sobra
É o que eu ganho no final,
A saudade se desdobra
Num momento desigual
224
Sertanejo coração
Da serrana valentia
Outro rumo e direção
Entregando à ventania.
225
Outra voz dissesse o tempo
Que me resta em tom suave,
Ao vencer um contratempo
Nada mais decerto entrave.
226
No caminho aonde eu pude
Traduzir o que queria
A verdade mesmo rude
Traz em si a fantasia
227
Nesta noite tão sombria
Brumas tantas, ilusões,
E se possa em ironia
Novos erros me propões.
228
Ondas lambem cada praia
E beijando tuas pernas,
Onde o sol sente e desmaia
As vontades bem mais ternas.
229
Tatuada no meu peito
A vontade de seguir
Contra tudo do meu jeito
Tanta coisa a redimir.
230
Ouso até saber da sorte
Onde o mundo hoje resgato
Tendo quem já me conforte,
Meu amor quero e constato.
231
A verdade se mostrara
De tal forma mais gentil
Dominando esta seara
Onde o tempo amor já viu.
232
Nas esporas da saudade
O corcel vagando além
O meu mundo em liberdade
Sabe o quanto agora tem.
233
Nada posso e nem pudera
Contra as fúrias mais venais,
E se possa em cada fera
Outros rumos infernais.
234
Quando enlaço esta saudade
E procuro pela luz
Que deveras quando invade
Totalmente me seduz.
235
O meu peito capixaba
Meu rincão é nas gerais
O meu mundo não acaba
Quero sempre e muito mais.
236
A palavra que trafegue
Nos anseios da emoção
Pouco a pouco já consegue
Ter no olhar a direção.
237
Sentimento traz intensa
A verdade que procuro
E se a vida já compensa
Meu caminho eu asseguro.
238
Ausentando do passado
Outro tempo já prevejo,
O caminho desenhado
Traz as rédeas do desejo.
239
Léguas tantas, fartas milhas
No oceano da paixão,
E se tanto agora trilhas
Nos teus sonhos a amplidão.
240
O meu canto não se cansa
De tentar em melodia
O que a vida em esperança
Tantas vezes poderia.
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