701
Toda trova que se faça
Mesmo sendo tão singela
Em quatro versos se traça
O que a vida nos revela.
Não mais tendo o que pensar
Neste mundo tenebroso,
O que possa imaginar
Traga o medo e trame o gozo.
Na verdade o que pudera
Desejar o coração
Amansando qualquer fera
Traz em si farta emoção.
4
Onde quis ter outro rumo
Minha vida se perdeu
Meu caminho quando esfumo
No vazio se verteu.
Nada mais trago no peito
A não ser uma saudade
Vou vivendo do meu jeito
Procurando a liberdade
Não soubera discernir
Entre os sonhos e a razão
E o que tenha inda por vir
Dominando a direção.
7
Ousaria acreditar
Se eu soubesse algum motivo
Nos anseios de um luar
Tão somente sou cativo.
A palavra se perdendo
Onde o tanto diz do nada
O meu mundo percebendo
No vazio a sua estrada.
Tenho fé no que viria
Ou talvez mesmo pudesse
Meu amor em harmonia
Vale mais que qualquer prece.
710
Onde a vida traz o brilho
Deste olhar; felicidade
Esperanças que polvilho
Noutro rumo: liberdade.
1
Aprendendo com o sonho
Ou sonhando com a sorte
Onde quero e me proponho
Tenho o canto que conforte.
Nada mais eu pude ver
Após tanta noite escura
O meu mundo a se perder
No vazio da procura
Nasci desta tempestade
E vivi no temporal,
O meu canto na verdade
Muitas vezes é venal.
Da mortalha que me deste
Deste luto mentiroso
Outro solo mais agreste
Sempre sigo, caprichoso.
5
Nada vejo após a sorte
Desairosa de um poeta
Quem convive vida e morte
Só no fim já se completa
Ousaria acreditar
Nos acordes da emoção,
Tanta vida da se negar
Tanta dor no coração…
Jamais pude ter em paz
O que um dia desejei
Quando amor seja capaz
Renovasse o que encontrei.
Bebo um gole de esperança
Onde o tempo não destoa
Minha vida já se lança
Noutra senda e segue à toa.
Ondas vejo mar adentro
Procurando algum porto,
Neste amor eu me concentro
Mesmo sendo rude e torto.
720
Inda mesmo noutro instante
Percebi nova falseta
O brilhar que amor garante
Não passasse de um cometa.
1
Inda mesmo que se veja
O que tanto desejei
Cada amor nova peleja
Já sem regra norma ou lei.
Nada mais eu poderia
Sendo a vida sempre assim
Vislumbrando noite e dia
O que sinto chega ao fim.
Quando a vida recomeça
Noutro passo mais ligeiro
Nada passa de promessa
Ou de um sonho aventureiro
Minha luta não se cansa
Não me canso de lutar
Meu amor feito esperança
Entranhando o imenso mar.
5
Ouso até pensar na vida
Como fosse alguma sorte,
Mas bem sei que distraída
Já se entrega em fria morte.
Onde tanto te queria
Nada mais vejo senão
O final de cada dia
Numa imensa escuridão.
Quantas vezes vi meu mundo
Desabando sem sentido
Coração tão vagabundo
Sem juízo está perdido.
Ao cair da tarde vejo
Neste céu iridescente
O vagar de algum desejo
Que soturno se pressente.
Nada mais se vendo após
O que tanto desejei
Coração bate feroz
Faz do amor a tola lei.
30
Onde escuto a tua voz
Ou percebo o pensamento
Todo o sonho segue após
O que possa e me apascento
Nada mais pudesse ter
Senão isto, o que ora creio,
O meu mundo a se perder
Perde o rumo noutro veio
O temor que se anuncia
Outro passo determina
A verdade não teria
Da esperança qualquer mina
Quero o gosto desta boca
Junto à minha neste instante
Esperança quase louca
Noutro canto se garante
Nada mais eu saberia
Se não fosse a vida assim
Um momento de alegria
Traduzisse amargo fim,
5
Nos anseios da esperança
Pude apenas presumir
O que tanto não se alcança
Nesta vida sem porvir.
6
Esperando alguma sorte
Onde nada se presume
Sem ter onde me conforte,
A saudade em dor resume.
Nada mais eu tive quando
Imagino novo tempo
O meu mundo desabando
Mais um tolo contratempo.
8
Buscaria algum conselho,
Mas sei bem que não se dá
Onde meto o meu bedelho
Nada encontro aqui ou lá
Ouro puro nos teus lábios
Doce sonho carmesim,
Dias mansos claros sábios
Trazem tudo para mim.
740
A verdade não traduz
O que possa noutro passo
Sonho feito em tanta luz
Refletindo cada traço.
1
Tantas vezes vi saudade
Onde quis a calmaria,
No caminho a liberdade
Se degrade dia a dia.
Jamais pude perceber
A vontade de seguir
Outro passo possa ter
Quem procura resistir
3
Minha vida representa
Muito pouco ou quase nada,
Esperança me alimenta,
Alma sempre esfomeada.
Num momento mais sutil
Outro tanto mais diverso
Onde tanto amor se viu
Hoje o passo é vil, disperso
5
Resumindo o que eu queira
Nas encostas da esperança
Cada sonho cordilheira
Quem procura não alcança.
Jamais tive em minha vida
O que tanto desejei
Nesta senda ora perdida
Tantas vezes me entranhei.
7
Nada mais se poderia
Nem vencer a solidão
Outro mundo em agonia
Revoltoso coração.
Como fosse o sonhador
Que se perde noutro fado,
Vou vivendo o pleno amor,
Tantas vezes enganado.
Nada mais trago no olhar
Nem sequer este horizonte
Onde possa caminhar
Meu caminho desaponte.
750
Aprendendo a dizer não
Tantas vezes; necessário
Ouso crer numa ilusão,
Mas não sou mais esse otário.
Na palavra não confio
Nem no fio da navalha
Incerteza ou desvario,
No final tudo atrapalha
2
Resolvendo o que pudesse
Noutro passo ou noutra sorte,
O meu mundo não merece
Nem ter mesmo o que comporte
Um velhaco sonhador
Emotivo coração?
Traz no fim o desamor
E engalana a solidão.
4
Nada pude acreditar
Nem tampouco poderia
Onde fosse te buscar
Nem o sonho encontraria.
Navegar sempre se deve
Mesmo quando não há cais
Coração seguindo em breve
Não temendo os vendavais.
6
Presumindo o fim do jogo
Nada tenho de mim mesmo
Quando vejo perto o fogo,
Sem defesas ensimesmo.
Na verdade o que consola
Traz no olhar a redenção
Outro tempo quando assola
Causa imenso furacão.
8
Esbravejo, mas no fundo
Não consigo imaginar
Este sonho onde me inundo
Num momento a divagar.
Resultado do que fora
Tanto tempo sem sentido
A minha alma sonhadora
O meu canto desvalido.
760
Bebo a sorte que não veio
Vejo o quanto não suporte
O meu mundo segue alheio
Esperando a minha morte.
Na palavra carinhosa
Ou até na que me fere
O cenário traz a rosa
E a saudade ora interfere
2
Onde visse o que não vejo
Vislumbrando novo tom,
Meu amor viva o desejo
Mesmo rude, ou até bom
Não seria de tal forma
O que possa noutro passo,
A verdade nos transforma
Reparando cada traço.
4
Nada mais eu vejo agora
A não ser o que veria
No momento se demora
Dentro da alma a fantasia
Tramo apenas o que possa
Transformar em alquimia
A verdade outrora nossa
Noutro tom, rara magia.
6
Não soubesse decifrar
O que tento num instante
Caminhando devagar
O final já se garante.
Nada quero ou mais tentasse
Sem sentido e sem proveito
O que tanto venha e trace
Com certeza sempre aceito.
8
Nos sertões da minha terra
Nas angústias de quem ama,
Coração a paz encerra
E desenha nova trama
Merecesse novo sonho
Quem se fez e sempre tente
Mesmo em mundo tão bisonho
Não seria impertinente.
770
Nas entranhas da saudade
Cada ponto representa
Outro rumo e na verdade,
Entoasse esta tormenta.
E se for pausadamente
O que tanto se apressasse
Neste mundo, de repente
Própria vida ultrapassasse
2
Nada quero do que tens
Nem também o quanto vejo
Entre os sonhos tantos bens
Ilusões de algum desejo.
Entremeio com meus sonhos
Atos, lutas, dia a dia
E se tenho olhos tristonhos,
Redimindo: a poesia.
4
Por mais terras e distâncias
Solitário coração
Nos vazios as estâncias
No horizonte, negação.
Cabem sonhos onde um dia
Pude mesmo imaginar
O que fosse e não teria
Onde mesmo descansar.
6
Abre os olhos e a janela
Ouça o vento divagando
Meu caminho se revela
De repente bem mais brando.
No meu passo sem descanso
No cansaço onde repasso
O meu mundo eu não alcanço,
Mas persigo traço a traço.
8
Onde a sorte dita o rumo,
Sem saber do que mereça
Tão somente o quanto esfumo
Pouco a pouco me enlouqueça…
Levo a vida de tal forma
Que não tendo mais sentido
O que possa nos transforma
Noutro passo, desvalido.
780
Ousaria acreditar
Nos momentos mais cruéis
E se possa delirar
Vagarei em carrosséis.
Num momento a vida traz
Outro rumo ou mesmo sorte
O meu passo mais audaz
Cada sonho agora aborte.
2
Nas tramóias da emoção
Outro passo se daria
E seguindo a procissão
Minha vida se esvazia.
Variasse a cada instante
O que pude desejar
E o que tanto se garante
Ocupando este lugar.
4
Apresento tais tormentos
Onde atento quis bem mais
Ouço até nos tantos ventos
Enfrentando os temporais.
Outro gole de café
Esperança toma um porre
Meu amor perdendo a fé
No vazio se socorre.
6
Esquecendo o que se tente
Novamente quis um dia
Procurando impertinente
Quem decerto envolveria.
Jogo feito; a vida passa
Nada tenho em meu futuro
Tão somente a mesma traça
Neste tempo mais escuro
8
Aumentando dia a dia
Esta dívida cruel,
O que posso não teria
Caminheiro sempre ao léu.
Nada mais do que se veja
Ou tentara sinto agora,
Enfrentar nova peleja
Com certeza me apavora.
790
Trabalhosa noite rude
Onde vejo o descaminho
Muito além do que já pude
Prosseguindo então sozinho.
Na calada desta noite
Novo tempo poderia,
Porém vida nos açoite
Destroçando a fantasia.
2
Barco solto sem amarras
Enfrentando este oceano
Onde tanto sinto as garras
Deste encanto mais profano.
Desta lápide que espera
O que um dia já foi gente
A verdade mais sincera
Que deveras se apresente.
4
Ruminando o meu passado
Vou seguindo feito um boi
Imagino lado a lado
O que há tanto já se foi,
Num arcaico palco a peça
Expressasse a valentia
De quem tanto já tropeça
Quando em fim nada traria.
6
Vagamente vejo o brilho
De quem tanto perfilasse
Outro tempo aonde trilho
Quanta luz se desejasse.
Já não tenho a liberdade
De seguir meu sentimento,
Pouco a pouco se degrade;
Resistir? Ainda tento.
8
Vejo apenas o vazio
Estampado em cada olhar
Minha vida por um fio,
Meu caminho a destroçar.
Onde o mar invade a areia
A palavra não cessara
De beber a lua cheia
Bela deusa nua e clara.
800
Na verdade o que se tenta
É vencer com mansidão,
A saudade que atormenta
Quem quer paz no coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário